sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Leste Km 49

Papai portuga é, reconhecidamente, mais repetitivo que surpreendente em sua curta e insistente filosofia. Ainda assim, guardo alguns de seus ensinamentos para noites como esta. "Eu gosto de quem gosta de mim". Me faltam dedos para contar quantas foram as ocasiões em que ouvi esta frase, acreditando sempre se tratar de uma solitária lição sobre o desprezo (ou uma desprezível lição sobre a solidão). Mas esta noite eu gosto da estrada, e a estrada gosta de mim, e também não me importo em enfatizar, apenas para garantir que estamos aproveitando toda a reciprocidade de que fomos feitos. E neste instante, me agrada saber que estive errado todo o tempo sobre essa frase, pois neste instante eu gosto um pouco mais da estrada, por saber que ela gosta de mim. E no instante seguinte, desejo que a estrada goste um pouco mais de mim, só por gostar dela esse pouco mais.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Entre despedidas e boas vindas

Apenas ser o “cara novo” tem ocupado muito do meu tempo.
Isso porque o “cara novo” pode (ou deve) fazer tudo diferente... ele tem novos amigos, novos interesses, novos talentos, novos hábitos, novos problemas, e tudo isso dá muito trabalho.
O que interessa mesmo nessa novidade toda é poder escolher como esse novo vai ser, e aproveitar tudo, até que tudo seja velho de novo. É poder colocar em prática o que sempre quis para sí, mas que estava enterrado fundo demais sob a mesmice, que nunca antes se mostrou tão despropositada.
É justamente encontrar novos propósitos em pálidos costumes, graça em piadas já tão desbotadas, e utilidades para antigos defeitos que, de tão praticados, hoje se passam facilmente por habilidades questionáveis.
Enfim, para aqueles que se orgulham em repetir “se pudesse, faria tudo igual outra vez”, tenho duas novidades:
Primeira, você pode, e isso não é slogan capitalista ou mantra de auto ajuda. É apenas a constatação de que, querendo ou não, dia após dia se vive uma vida diferente da que passou, repleta de rupturas com o passado, memórias em movimento e arrependimentos gradativos prontos para serem confrontados, antes que se tornem constatações conformistas ao final de um longo caminho de insistência e decepções.
Aos que optarem pela ilusão da linha reta, restará sempre o advento da extrema unção. Particularmente, prefiro não esperar pelo meu último suspiro para me arrepender de minhas ações, ou falta delas.
Segundo, e essa é para quem vive pela segurança da repetição, as coisas podem ser melhores, e deveriam ser... ao menos para os que conseguirem entender que os ciclos se repetem, mas o que te fez feliz um dia não necessariamente será o bastante para garantir os próximos anos de sorrisos largos. Saber o porque você foi capaz de ser feliz com algo, isso sim faz toda a diferença.
E é bem assim, de repente sem repente, entre despedidas e boas vindas, do sossego ao impreciso, por singulares novos vícios, que tudo volta a fazer algum sentido, uma vez mais.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Cócegas

É a melhor forma que tenho para descrever essa sensação...
Você sorri, mas não é propriamente alegria ou satisfação... na verdade, é algo que beira o desconforto, e serve apenas para desviar a atenção do que lhe incomodava segundos atrás, além de acabar subitamente marcada por uma última risada que mais parece um suspiro, como de quem diz “tá, e agora?”.
Compreendido isso, como se tira uma pena do coração?