quinta-feira, 9 de junho de 2011

A falta que a falta faz...

Como saudosista praticante sinto falta de muita coisa, mas numa época tão farta, em que se vive pela plenitude do ser e do ter, preencher todas as lacunas de tempo, caráter, talento, popularidade e posses se torna tarefa digna do Beatle mais bem sucedido, e são justamente as privações que permanecem mais vivas na minha lembrança.
Acontece que essa fobia em ocupar cada fresta ignora os limites da existência e eleva as carências ao seu estado mais denso. Nunca mais será o bastante almoçar com alguns bons amigos, conquistar algo pela qual batalhou ou ser talentoso em algo.
É preciso estar com todos ao mesmo tempo, em todos os lugares (em que houver Wi-Fi, ao menos), ter tudo o que se há para ter, ser excepcional sob todas as formas.
Em tempos tão maciços, sinto a falta de dias mais arejados, quando suas qualidades e defeitos convergiam num conceito agora obsoleto... o da individualidade.
Conceito este em que o conjunto da obra não mirava a unanimidade, mas algo único em seu conteúdo e ausências, valorizado por tudo o que é e pelo o que nunca vai ser.
Afinal, a maior utilidade do vaso mais belo continua sendo o espaço vago da qual ele é feito.


Sent from my iPhone... NOT!

Um comentário:

  1. É, não foi engraçado, mas foi profundo. Às vezes sinto que o que existe é a busca por qualquer coisa, desde que seja muito. Essa falta de individualidade fez as pessoas deixarem se saber quem são e do que gostam. Então todos vivem o que vêem ou o que é legal nos outros ou padronizado pelo todo. E individualidade se tem com silêncio, com resguardo, com certo isolamento. Hoje tá difícil, especialmente nas cidades agitadas como SP. Um dia li uma frase de Osho que era mais ou menos assim "o entretenimento é a fuga de si mesmo". Meio radical se pensar nas pessoas mais ponderadas. Mas pense na maioria!?

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